ESQUEMA SÍMIO: professor Evanir Pavloski avalia a música “Ogiva”
Postado em 15/03/2025


O professor associado da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Evanir Pavloski, disponibilizou um texto o qual avalia de maneira precisa a música “Ogiva”, uma das clássicas composições da banda ESQUEMA SÍMIO.

Evanir, autor de livros relevantes como “1984: A distopia do Indivíduo sob Controle” e “Admirável Mundo Novo e A ilha de Aldous Huxley: Entre o pesadelo e Idílio Utópico”, se permitiu redigir suas impressões acerca da referida canção, que muito se conectou com a sua visão de mundo, retratada nas suas obras literárias.

Ao ouvir música “Ogiva”, da banda baiana ESQUEMA SÍMIO, é difícil não se lembrar da cena inicial do icônico filme “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, dirigido por Stanley Kubrick em 1968. Essa referência não se dá apenas pela sugestão do nome do grupo, mas também pela harmonia, melodia e conteúdo da canção. Misturando uma sonoridade melódica (que inclui acordes bem brasileiros e uma entoação pacificadora e ao mesmo tempo melancólica no interlúdio) com riffs pesados de Hard Rock no refrão, a composição recria, de certa forma, a representação fílmica da mudança do ambiente tranquilo vivido pelos nossos antepassados para a realidade violenta gerada pelo uso do osso para a violência e para a destruição. Lançado no espaço, o objeto, parte de nosso ser, é envolvido pela enganosa calmaria de um futuro no qual as heranças dessa mesma violência primitiva se esconde.

Essa transição da tranquilidade para a instabilidade trazida pela parte instrumental é complementada pela letra da canção, vocalizada em timbres ora angustiados ora nervosos, que descreve um futuro caracteristicamente distópico, reafirmando a proximidade desse gênero com a ficção científica. Os versos unem parte dos temores que permearam o século XX e alimentaram tanto as distopias quanto as obras da sci-fi. As consequências éticas do avanço tecnológico (“máquinas de gerar residências em solo lunar”), o apocalipse global (“o globo vai colapsar”), a exploração espacial para fins materialistas (“planos para aproveitar, planos para economizar”), o hedonismo inconsequente (“dispositivos para distrair na hora que a ogiva explodir”), e o controle individual (“escravos de última geração”).

E, além de tudo isso, a letra ainda evidencia um aspecto fundamental das projeções distópicas por vezes negligenciado: a responsabilidade de todos os indivíduos pela concretização do pesadelo. Quando no refrão aparecem os versos “Detonei a bomba que armei / Desarmei o inimigo que amei”, a imagem no espelho reflete não apenas uma testemunha ou uma vítima, mas também um participante na formação de todo esse novo contexto.

Desde seu surgimento no século XIX, as distopias e seu permanente diálogo com a ficção científica se destacaram como alertas para a possibilidade de futuros sombrios que estão sendo construídos no presente. São lembretes da existência de ogivas prontas para serem detonadas pela lógica insana dos descendentes daqueles que, com um osso nas mãos, descobriram a dinâmica da violência e do poder. Ou seja, todos nós.

“Ogiva” é mais um aviso dos perigos que sempre nos observam neste ou em qualquer outro espaço (interestelar ou não).

ESQUEMA SÍMIO é o projeto musical rocker que tem no seu centro a liderança artística do escritor, músico, compositor e professor universitário Lucas Moreira. Embora a Esquema Símio se designa como uma iniciativa sonora de um único membro fixo, seu representante principal tem mantido contatos muito fecundos com diversos músicos da região nordestina.

ESQUEMA SÍMIO nasce de um outro projeto artístico-musical, também liderado por Lucas Moreira, que surgiu se dissolveu nas noites soteropolitanas no início do século XXI, aproximadamente entre 2004 e 2006. À época, a banda se chamava 23.4. O repertório do artista se faz de canções autorais inspiradas em sentimentos e percepções vindas de experiências singulares de um sujeito receptivo e sensível às próprias linguagens múltiplas da vida humana e não-humana no mundo contemporâneo. A musicalidade da ESQUEMA SÍMIO não deixaria de se permitir ser tocada por melodias de grupos de rock que se tornaram referências no universo do gênero musical, tais como Tears For Fears, Radiohead, Smashing Pumpkins, Placebo, Paul McCartney, Secos e Molhados, Chico Science e Nação Zumbi, Jeff Buckley, Titãs, entre outras bandas de Rock do cenário nacional e internacional.

Em janeiro de ano de 2023, Lucas se viu demasiadamente inquieto após recordar das sensações advindas de leituras que tinha concluído de romances do gênero distópico bem como “O Macaco e a Essência”, de Aldous Huxley, “Grandes Símios”, de Will Self, “Cows”, de Mathew Stokoe, “The Memory Police”, de Yoko Ogawa, “Sonham os Androides com Carneiros Elétricos”, de Philip Kankred Dick, entre outros.

Seu primeiro EP “O Gorila Mais Triste da Tailândia” divulga quatro faixas: “Instituições”, “Fissão”, “A Fúria da Flor Inocente” e “O Sentido de Estarmos Juntos”. A primeira faixa, “Instituições”, já está tocando no Programa Made In Brazil.

Para mais informações sobre as atividades da banda ESQUEMA SÍMIO e dos demais artistas da empresa, basta entrar em contato com a MS Metal Press através do e-mail [email protected].

 
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